Há alguns anos o mercado literário vem crescendo significativamente em relação aos títulos sobre como educar os filhos. Existe livro para todo tipo de filho: livro que ensina a educar meninos e livro que ensina a educar meninas, livro que ensina a criar um filho vencedor, a educar com limites, a criar filhos únicos e assim por diante.
Venho de tradicional família mineira. Meus pais foram criados no interior, provenientes de uma família relativamente grande. Todos os filhos dos meus avós maternos e paternos são pessoas honestas, trabalhadoras, que formaram suas famílias, criaram seus filhos e viveram felizes, com todas as dificuldades, felicidades e infelicidades das pessoas humanas. Assim também são seus netos: pessoas normais, que souberam encontrar felicidade na vida que escolheram. Por esses motivos posso dizer que são pessoas bem sucedidas.
Na época dos meus avós não havia os tais livros de auto-ajuda, muito menos manuais de educação de filhos. As regras da boa educação eram transmitidas de geração em geração, com forte influência dos valores da Igreja Católica.
Os filhos desta geração também seguiram o mesmo caminho, apoiando-se em sua família de origem, nos valores por elas transmitidos e na educação católica que receberam.
Alguns filhos, quando adultos, refletiram e selecionaram, das atitudes e ensinamentos de seus pais, o que iriam repetir ou descartar para sua vida e para a educação de seus próprios filhos. Ainda assim, também os criaram com base em sua própria educação. A esta eram agregados os conhecimentos adquiridos fora de casa, as trocas de experiências, os estudos, as leituras e o acompanhamento do mundo, assim como os valores adquiridos através da religião.
A convivência familiar era importante e valorizada. Ninguém se sentia sozinho e contava sempre com a opinião de algum membro da família para suas atitudes. A educação era, então, compartilhada, alimentada pelo seio familiar.
Considero o exemplo da minha família uma pequena referência para pensarmos nas famílias da mesma época, uma vez que a minha é uma família bem típica e tradicional.
Vejo que as gerações atuais vêm perdendo a convivência familiar. Com o tempo, as famílias estão se tornando menores e seus membros mais distantes uns dos outros. Os pais de hoje, buscam na literatura respostas fáceis para o que não conseguem entender, regras e receitas para agirem com seus filhos de acordo com o que é vendido a eles. Assim, é delegado aos autores deste tipo de livros o saber sobre como agir com uma criança que eles nunca viram, em determinada situação que desconhecem.
Para vender os livros, existe a fórmula da receita de bolo: faça isto e terá como resultado, aquilo. Assim são escritos os tais livros para os pais atuais, com regras sistematizadas e planejadas para cada comportamento da criança, a fim de obter, como resultado, uma criança com limites, que sabe dormir sozinha, comer sozinha, que não dá birra e não responde aos pais. Esta criança, dizem os livros, será capaz de se tornar um adulto bem sucedido, capaz de concorrer no mercado de trabalho, ser líder e, enfim, ter uma posição bem definida na vida. Ou seja, os livros vendem a idéia da possibilidade de se criar um filho como dita o mercado de consumo, levando os pais a acreditar que seus filhos precisam ser os melhores em tudo e que, para isso, devem fazer uma infinidade de aulas extracurriculares, possuir brinquedos específicos, vestir-se de determinada maneira e assim por diante.
Os livros de auto-ajuda, para a educação dos filhos, têm como referência uma teoria do comportamento que busca controlar o comportamento dos indivíduos sem considerar processos mentais como o pensamento e os sentimentos. Se formos aderir às receitas propostas por tais literaturas, estaríamos considerando a incapacidade de nossos filhos de pensar criticamente, analisar, concluir, assim como estaríamos desconsiderando, também, seus sentimentos.
Em uma receita de bolo não há espaço para a reflexão. É só seguir a receita como está escrita e o bolo fica pronto. Porém, na criação dos nossos filhos não é assim. Cada pessoa é única e nessa condição, cada um enxerga o mundo à sua maneira, age de forma distinta, necessita de estímulos diferentes para se desenvolver e faz escolhas independentes das de seus pais.
A fórmula mágica que tantos pais buscam para educar bem seus filhos não existe!
Deve existir, sim, um olhar atento do pai para com o seu filho a fim de conhecê-lo e compreendê-lo, para saber como ajudá-lo em seu crescimento. Erros terão mil e com eles os pais também aprendem. Assim como aprendem com a negativa do filho, com as escolhas distintas que ele faz, com os caminhos que ele é capaz de lhes apontar.
Antes de procurar soluções do lado de fora, na literatura fácil, é preciso procurá-las do lado de dentro. Perguntas como: “como eu enxergava esta situação quando era criança?” ou “quais escolhas me trouxeram aonde cheguei hoje?”, “o que me fez ser como sou?” são capazes de ajudar os pais a se aproximarem do universo dos seus filhos, a compreender este universo e, assim, saber o que sua criança necessita.
A convivência familiar é grande aliada na educação dos filhos, uma vez que retroalimenta a família afetivamente e ajuda os filhos a confiarem em seus pais e sentirem-se seguros.
A escola e sua equipe especializada também é outra aliada. Não para dar receita de bolo, mas para refletir junto à família sobre cada fase do desenvolvimento das crianças e suas necessidades: ressalta-se que necessidade é muito diferente de vontade.
Para quem gosta de recorrer à literatura como um recurso para a educação dos filhos, pode buscar conhecimento nas ciências: a psicologia, a sociologia, a história e a pedagogia não darão nenhuma receita aos pais, mas são capazes de oferecer suporte para a compreensão do ser humano e suas fases do desenvolvimento. Para transformar estes conhecimentos em boas ações educativas, há que se fazer esforço. Mas vale muito a pena!