sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Ritmo

Este tema já foi abordado dentro do CLIC! em algumas reuniões, mas os motivos que me fizeram trazê-lo novamente para a reflexão são:  a importância que ele tem em nossas vidas, a facilidade que temos para esquecer de cuidar dele e a facilidade, da vida atual, de imprimirmos um ritmo que não atende verdadeiramente às nossas necessidades.
A vida acelerada que vivemos, o excesso de trabalho, a tentativa de acompanhar a avalanche de informações às quais podemos ter acesso a cada minuto, o trânsito intenso são capazes de nos tirar do nosso eixo e imprimir um ritmo em nossa vida tão acelerado, que não percebemos o distanciamento que vamos tomando de nós mesmos.
E para descansar, o que fazemos? Continuamos a roda viva e participamos de todos os acontecimentos culturais e sociais da cidade. Acreditamos que não podemos perder nada, a fim de evitar o sentimento de ficar para trás dos outros, por fora dos assuntos.
No final do domingo experimentamos o sentimento de não ter tido tempo suficiente para fazer o que gostamos nem para descansar.
Somando-se a isto, há os inúmeros e-mails que temos que ler e responder, os seriados televisivos que não podemos perder, os jogos eletrônicos, as compras e tantas outras coisas que ocupam nosso dia-a-dia.
A vida moderna nos trouxe grandes facilidades, mas trouxe também o distanciamento de nós mesmos. Nosso olhar é sempre desviado para fora do nosso interior. Passamos, sem perceber, a buscar respostas para nossas dúvidas do lado de fora.
Em relação à vida familiar e à educação dos filhos acontece o mesmo. Procuramos nos livros, no comportamento dos vizinhos e de outros colegas de trabalho o que devemos fazer. Nossa referencia passa a ser a mídia, o vizinho e a literatura, geralmente de auto ajuda.
Alem disso, temos sempre a preocupação de preencher o nosso tempo e o das crianças com inúmeras atividades.
E quando piscamos nossos olhos, a família está o dia todo ocupada, com a agenda cheia, sem tempo de convivência. Quando não muito, a convivência oferecida aos pequenos é sempre a pública, social, perdendo-se a íntima, familiar, privada.
Quando chegamos ao ponto de precisar de um terceiro para nos dizer como vai nosso filho, quando olhamos para ele e não conseguimos enxergá-lo é sinal de que estamos longe de nós mesmos e do centro da nossa família.
O que pode nos trazer de volta é o ritmo! Para isto, precisamos rever nossa rotina e incluir nela um tempo para todas as refeições diárias _ café da manhã, lanche, almoço, lanche e jantar _ com boa qualidade. O que significa comer saudavelmente e mastigar a comida sentindo o gosto que tem.  
Dentro da nossa rotina precisa haver tempo para olhar nos olhos dos nossos filhos e ouvi-los. Assim também com o nosso companheiro(a), caso haja um.
A família precisa também, para se nutrir afetivamente, de um tempo onde seus membros estejam juntos partilhando uma boa conversa e/ou brincadeira, sem aparatos eletrônicos, mas de pura convivência e afeto. Sem, inclusive, a companhia dos amigos. Mas precisa também de um momento para estar com estes!
Para se obter um bom ritmo é preciso conseguir respirar, descansar, produzir, rir, ouvir e ser ouvido, relaxar.
O dia é para o trabalho, a brincadeira, a produção, seja ela infantil ou adulta. A noite é para o descanso, a fala mansa, o relaxamento.
Vale uma avaliação individual das próprias escolhas, do ritmo diário e semanal, da qualidade dos relacionamentos que cada um tem conseguido estabelecer. E fazer as alterações necessárias, caso constate que está “fora de ritmo.
Dri

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Lançamento do livro

Neste próximo fim de semana o CLIC! lançará o livro
Meninada, o que a gente vai fazer hoje?

Este livro é fruto do trabalho de um pai zeloso e admirador da proposta pedagógica do Centro Lúdico, o qual presenteou o CLIC! com esta jóia de livro, que traz, através do relato de vários educadores e de suas observações,            o dia-a-dia deste espaço ímpar, fundado em 1996 e hoje dirigido por Letícia Fonseca e Carol Brasil.
O CLIC! tem dois valores (dentre vários outros) que gostaria de ressaltar: a parceria entre família e escola e seu caráter aberto, ou seja, é uma escola clara, límpida, desarmada. Não há, em seu dia-a-dia, nada que não possa ser do conhecimento das famílias que confiam seus filhos àquelas pessoas.
Em 2009, o CLIC! teve a honra de ser presenteado com a proposta de Carlos de escrever sobre sua história, a fim de mostrar, às pessoas interessadas, um pouco deste trabalho único, realizado em um espaço tão privilegiado. Nesta oportunidade, estes dois valores  citados contribuíram para o resultado que vocês poderão conferir na deliciosa leitura deste livro  que conta ao leitor sobre a simplicidade, a alegria, a cumplicidade, o envolvimento, o afeto, a alegria de viver e o respeito à infância. Além de poderem se deliciar com as fotografias!
Da parceria entre família e escola nasce o crescimento de todos os envolvidos, a cumplicidade com a educação das crianças e o envolvimento com a proposta pedagógica da instituição.
O caráter de abertura da escola permite esta parceria, promove a confiança e estreita os laços afetivos.
Esta é uma parceria que o CLIC! faz questão de firmar e, mais que isto, conta com ela. Conta com o olhar crítico das famílias para sua prática, conta com as inúmeras contribuições dadas por pais e familiares participativos, conta com a avaliação que as próprias crianças dão do trabalho realizado, através de seus comentários, suas conclusões, do brilho em seus olhos e seu desenvolvimento integral.
Parabéns, Carlos e toda comunidade CLIC! pela realização deste trabalho!
Dri

terça-feira, 9 de agosto de 2011

A sedução da tecnologia

A tecnologia é muito sedutora. Levando-se em conta o nosso dia-a-dia, ela resolve problemas, atende às necessidades da vida moderna, traz o mundo para perto das pessoas, e possui uma infinidade de outras qualidades que poderiam ser citadas.
Hoje pude ver uma menininha, de aproximadamente 3 anos, “mexer” em um computador. A intimidade com a máquina era grande - como a maioria das crianças atuais - e acredito que era capaz de jogar vários tipos de jogos.
Para descobrir como jogar um jogo, não necessitava ler as instruções nem tão pouco pedir ajuda a um adulto. Usava a máquina com sua inteligência sensório-motora _  o estágio mais primitivo da nossa inteligência (assim também fazemos nós, adultos, diante de uma máquina desconhecida. Experimente!) e podia guiar-se pelos símbolos que aprendeu através desta interação.
Porém, para andar, para se sentar e nas manifestações de cansaço, não possuía tantas habilidades quanto para interagir com a máquina.
Na era da tecnologia, costumamos ouvir que as crianças já nascem conhecendo os botões e isto seduz muito o adulto. Principalmente aquele que vem de um tempo no qual computadores modernos eram considerados coisa do futuro.
Estes adultos são facilmente seduzidos pela intimidade com que suas crianças interagem com computadores, iPodes, iPhones, celulares e outros aparatos tecnológicos e acabam confundindo o desejo da sua criança interior com o desejo de seu filho(a) de 2, 3, 4, 5 anos, presenteando-os, então, com jogos eletrônicos.
É preciso uma certa crítica para avaliar a verdadeira necessidade de um presente como estes, quando dado a crianças muito pequenas. Não que o uso das tecnologias não seja recomendado, indicado ou aprovado para determinada faixa etária. O que quero colocar em discussão é a real necessidade da criança.
Do que crianças entre 1 a 3 anos necessitam? E as de 4 a 6? Já têm boa coordenação motora? Sabem se expressar  facilmente? Dormem quando têm sono e pedem para comer quando têm fome? Conseguem inventar suas próprias brincadeiras sem depender dos adultos o tempo todo? Sabem pular corda, andar de bicicleta, pular amarelinha? Este tipo de brincadeira, por mais simples que pareça, ajuda a criança a formar sua consciência corporal, desenvolve sua coordenação motora e contribui para a formação da base do pensamento lógico matemático. Sem contar com o fato de que tais brincadeiras promovem a socialização e a internalização de regras. Ou seja, estas simples brincadeiras contribuem para o desenvolvimento físico, social, afetivo e psíquico das crianças.