A coluna dorsal do projeto do CLIC é a brincadeira, a interação e a cultura. Não é à toa que sempre se fala sobre isto nas reuniões de pais, nos encontros de famílias e aqui mesmo, neste blog. A preocupação com a saúde da infância e sua preservação não é somente nossa. Que bom! Não somos nós os únicos que nos dedicamos a juntar o maior número de pessoas em prol de uma infância saudável. O Instituto ALANA, por exemplo, busca despertar a consciência crítica da sociedade sobre práticas de consumo de produtos e serviços por crianças e adolescentes. Luta para minimizar os impactos negativos causados pela mercantilização da infância e da juventude.
A pedido deste instituto, o Conselho regional de Medicina de São Paulo publicou um parecer técnico contra-indicando programas de televisão para menores de três anos. Este parecer pode ser conferido neste endereço:
Um dos argumentos utilizados no documento é o de que a criança pequena precisa de relações afetivas para se desenvolver, além da necessidade de ter “experiências reais”, como está escrito no mesmo documento.
O que eles estão falando é que as crianças precisam de relação e interação. Precisam que se olhe em seus olhos, que sejam incluídas nas atividades familiares, que sejam consideradas no planejamento da rotina e dos programas familiares. E que não é uma boa opção entregá-las a uma babá eletrônica, na fase em que necessitam do contato com pessoas.
A criança pequena aprende interagindo com o meio, mexendo nas coisas, levando-as à boca, subindo e descendo degraus, bancos e pequenas alturas, puxando e empurrando objetos, colocando e tirando coisas de dentro de caixas, gavetas e o que mais encontre pela frente. Cabe aos adultos saber oferecer a elas materiais adequados para que possam exercitar sua inteligência. A televisão não lhes oferece nada do que precisam!
Tive uma experiência muito interessante no mesmo dia em que li sobre a matéria deste parecer técnico mencionado acima. Levei uma de minhas filhas à dentista e chegamos ao consultório junto com a doutora, que estava entrando com duas filhas, de 8 e 5 anos e um bebê de 10 meses. Quando vi a cena pensei: como irá trabalhar com toda a família?
Pois aprendi que é possível conciliar, perfeitamente, família e trabalho. Ao lado da sala de atendimentos, havia outra pequena sala com mesa e cadeiras tamanho infantil, caderninhos para desenhar e colorir e alguns brinquedinhos de bebê. Para lá se dirigiram as duas crianças maiores, enquanto a mãe foi para o consultório. A consulta começou normalmente, enquanto o bebê dormia em um bebê-conforto, na mesma sala onde estávamos. Quando ele acordou, ela nos pediu um minutinho, foi carinhosamente vê-lo, tirou-o de sua cadeirinha e o levou, juntamente com uma bolsa cheia de coisas, para a sala onde estavam suas irmãs. Estas brincaram com ele e o alimentaram enquanto minha filha era muito bem atendida e orientada na sala ao lado. Passados uns minutos o pai foi buscar as crianças e levá-las para casa, enquanto a mãe terminava seu trabalho.
Fui para casa pensando em como podemos fazer arranjos familiares que unem a família, atenda bem às crianças sem que sejam colocadas no lugar de incapazes. Quantas vezes os adultos acreditam que são responsáveis pela alegria das crianças e seu entretenimento? Preocupam-se em diverti-las todo o tempo, como se não soubessem fazer isto sozinhas e em grande parte dos casos encontram na televisão uma boa aliada, pois a criança se mantém quieta, enquanto o adulto termina seus afazeres. Este, porém, se esquece das necessidades reais dos pequenos, de suas capacidades e de que há mil e uma maneiras de oferecer-lhes situações e materiais adequados à sua criatividade, aos seus jogos motores e simbólicos e à sua diversão.
Admirei a cena que presenciei no consultório dentário. A calma da mãe, a organização da família e a tranqüilidade e harmonia das crianças. Não acredito que isto aconteça todos os dias, mesmo porque as crianças vão à escola e participam de outras atividades, mas ficou claro que há muitas maneiras de organizar os membros de uma família onde todos se respeitam, se ajudam e onde a relação afetiva é predominante.
Dri
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