“Respeitar o ritmo de cada um” é uma frase muito ouvida e lida em muitos textos e livros. Mas o que realmente significa isto? Como respeitar o ritmo de uma criança que não caminha nos passos de seus colegas? Respeitar o ritmo deixa a criança atrasada?
Durante o desenvolvimento humano, cada pessoa caminha em seu passo. E o ritmo do passo depende de inúmeros fatores, dentre eles está a maturação do organismo e a maneira como a pessoa é criada. Quando muito protegida, sente dificuldade em lidar com desafios e diversidade. Ao passo que, quando muito desprotegida, sente-se por vezes insegura e pode reagir com uma aparente bravura, porém no fundo sentir-se muito desamparada.
Entendo respeitar o ritmo de cada um como oferecer as condições necessárias para que aquele organismo possa se desenvolver integralmente. Para isto, temos que lembrar que dentro de nós existe um espaço que é o das emoções, dos afetos e da disposição do próprio organismo para receber novas informações em determinado momento. Conheci uma criança de três anos que falava o abecedário completo e em ordem, escrevia seu nome completo e _ pasmem!_ “recitava” o teorema de Pitágoras. Porém, isto não significa que ela era conhecedora do assunto. Seu espaço interno, não estava preparado para digerir tais informações. Assim, apesar de repetir as informações dadas, não tinha o que fazer com elas.
Para respeitar o ritmo de uma criança, ou seja, para apoiá-la em seu desenvolvimento integral a fim de ajudá-la a crescer é preciso primeiro conhecê-la. Também é preciso conhecer sobre o desenvolvimento infantil. Pais, tios, avós e outras pessoas leigas podem fazer isto observando a criança e conversando com a mesma. Nestas situações podemos conhecer muito sobre seu universo, como pensam e a partir de que ponto agem. Já professores de diversas áreas e educadores em geral, têm o dever de estudar sobre o desenvolvimento infantil, a fim de propor situações adequadas aos seus pupilos. Esta já é a segunda parte de “respeitar o ritmo de cada um”.
Depois de conhecer as crianças, para aproximá-las do conhecimento necessitamos oferecer-lhes as situações adequadas. Em uma turma de 20 alunos vocês crêem que todos reagirão a uma mesma situação de maneira semelhante? Claro que não! Neste sentido, se o tema está de acordo com o universo da criança, porém ela sente dificuldade de dominá-lo é porque o adulto não soube oferecer-lhe situações adequadas, capazes de levá-la a aprender o que está sendo proposto, ou talvez ela não tenha tido tempo suficiente para assimilar o novo. Neste caso, o adulto responsável por desenvolver o assunto, deve buscar outros meios e estratégias que falem diretamente a quem está com dificuldade e dar-lhe o tempo necessário para entrar em contato com a nova informação. Sob este ponto de vista, não se pode montar um currículo cheio de temas a serem desenvolvidos em pouco tempo. Existe um processo que acontece dentro de nós de maneira que o organismo precisa assimilar, acomodar e equilibraruma informação nova, para depois se apropriar da mesma. Explicando de maneira simples, é como a digestão: primeiro mastigamos, ou seja, entramos em contato com uma nova informação, depois engolimos, o equivalente a colocar esta informação para dentro, em contato com outras que já dominamos, com tudo o que conhecemos e por fim, a digestão em si, que seria acomodar a informação nova ao que já temos construído como conhecimento e assim, somar a estes com propriedade. Neste momento, quando falamos sobre o assunto, não estamos repetindo a informação dada e sim, falando o que entendemos, incluindo nossos conhecimentos prévios, nossa história e nossa forma particular de ver as coisas.A aprendizagem está diretamente relacionada à autonomia! Mais importante que dar informações (que, afinal, podem ser buscadas em várias fontes sem necessidade de ajuda) é ajudar o organismo a pensar com autonomia.
Gosto muito do caso de um amigo do CLIC que, com seis anos de idade, bateu à porta da diretora de sua nova escola para reivindicar sua mudança de turma. Ele estando em desacordo com uma atitude da direção, reuniu argumentos e soube exatamente a quem procurar. Esta criança hoje já é grande e continua muito bem desenvolvida e autônoma, fazendo diferença entre os seus.
Não importa a fase do desenvolvimento que se encontra a criança, a compreensão deste processo e a maneira de agir são as mesmas. Ou seja, durante o processo de aprendizagem, precisamos respeitar o ritmo do indivíduo o que significa conhecê-lo, respeitar seu espaço interno, acolhê-lo, oferecer-lhe situações de aprendizagem adequadas e caminhar a seu lado, apoiando-o no que necessita.
Dri