Hoje estava observando crianças entre 5 e 17 anos brincarem juntas. Brincaram de esconde-esconde, de fazer moldes de roupa de boneca, de carrinho, de piorra, de desenhar, entre outros. Havia menino entre meninas, com diferença de idade grande. Do mais novo ao mais velho, todos se divertiam! Curiosamente, não houve brigas. Talvez pelo fato de os mais velhos cederem aos mais novos ou também por saberem administrar melhor os relacionamentos e as brincadeiras.
O fato é que fiquei pensando na importância da convivência social sadia, respeitosa, promotora da troca e do crescimento individual. As crianças que observava não estavam sendo monitoradas por nenhum adulto. Eu era uma observadora quase invisível. Acho, inclusive, que elas se esqueceram de que eu as observava. Na verdade, as admirava! Estavam felizes, riso solto, tinham todo o tempo do mundo para suas brincadeiras. Não se lembraram da TV nem dos jogos individuais. São crianças acostumadas a se relacionar. A resolver problemas, a encontrar caminhos, a criar, a agregar.
Vivemos um tempo de relacionamentos superficiais, efêmeros. Somos de uma geração acostumada com tudo instantâneo e individual: mudar o canal da TV com controle remoto, ter mais de uma TV em casa, comer comida rápida, jogar jogos eletrônicos, subir de elevador, andar de carro, enviar emails e receber a resposta rapidamente, possuir lap top, telefone celular, pesquisar no Google, dentre tantas outras atividades que nos transformam em pessoas impacientes e individualistas.
No nosso tempo, as crianças são monitoradas por adultos quando bem pequenas e pela televisão e pelo computador quando um pouco maiores. Não as incentivamos a conviver com outras crianças, impedimos que se frustrem e que sofram. Impedimos que tenham conflitos, damos-lhe de tudo para que “não fiquem para trás” e ensinamos-lhe a consumir demasiadamente.
Adotamos, na educação de nossos filhos, um caminho que leva ao individualismo, à intolerância e à inabilidade para conviver socialmente.
O grupo de crianças que eu tive o prazer de observar hoje achava caminhos democráticos para suas diferenças e dificuldades. Coisa rara hoje em dia!
Como as conhecia, fiquei pensando na história de vida de cada uma delas. Desde cedo acostumadas a conviver com outras crianças, incentivadas a criar suas próprias brincadeiras, permitidas a usar sua criatividade em várias situações. Enfim, crianças preservadas em sua infância.
O grupo social promove o crescimento individual de cada sujeito que o compõe, através da própria convivência e suas dificuldades. As crianças são capazes de buscar caminhos para os desafios que encontram, quando incentivadas a isto. Também são inteiramente capazes de inventar brincadeiras, sem que tenhamos que preencher seu tempo livre com atividades e entretenimentos o tempo todo.
O resultado de uma infância simples, regada por amigos e brincadeiras da cultura infantil, pela convivência social genuína entre pares não pode ser outro que não o desenvolvimento de indivíduos íntegros, criativos, conhecedores de si mesmos, capazes de serem sujeitos de sua própria história!
Dri